Não é novidade pra ninguém que nos últimos meses os preços de forma geral têm estado acima da média, desde os alimentos básicos até a os insumos de construção.
O que me chamou a atenção e me motivou a escrever esse texto foram situações vividas no nosso escritório de projetos, sugiro a leitura daqueles que pensam em construir em breve.
No processo de criação sempre tentamos dar para o cliente uma noção dos custos das soluções propostas em projeto para o cliente se balizar e não ser pego desprevenido na hora da construção, mas mesmo assim ainda existem as situações em que o orçamento, ou a falta dele, aperta mesmo antes de iniciar o processo criativo.
Recentemente realizamos entregamos um projeto para um casal de clientes. Amaram o projeto, realmente ficou demais. No fim desse processo fiz uma pergunta que raramente faço aos nossos clientes: Que tal se nossa equipe apresentar um orçamento de obra para construir esse projeto? Os clientes prontamente aceitaram. Ao fim de 15 dias o orçamento estava pronto, considerando 100% conforme projeto, com cronograma de execução, com garantias de execução e atendimento de orçamento e prazo e tudo mais.
Ao apresentar o orçamento para os clientes eles se mostraram um pouco surpresos, entendo perfeitamente pois ali está quanto vai custar aquele sonho, de forma fria, preto no branco, sem enrolação. Os clientes levaram a proposta embora e ficaram de dar retorno sobre a proposta em alguns dias.
Para a minha infelicidade fiquei sabendo que eles iniciaram a obra sem mesmo dar um retorno sobre a proposta apresentada, fiquei encanado pois levamos quase metade de um mês pra montar um orçamento item a item, estudar um cronograma, pensar na melhor forma de desembolso, garantias, contratação de mão de obras, fornecedores, etc.. e eles iniciaram a obra sem mais nem menos. Entrei em contato e recebi apenas a resposta: “vamos nós mesmos cuidar da construção”.
Eu como consumidor de outros serviços que não estão na minha competência entendo essa situação, também fico frustrado quando algum sonho fica caro demais pra mim... aquela viagem dos sonhos, aquele carro, aquela moto... enfim, nos sentimos pequenos quando isso acontece. Porém quando algo não está ao meu alcance eu entendo que tudo tem hora e de repente essa não é a hora de realizar esse sonho. Uma viagem pode ser adiada, o carro atual pode aguentar mais um ou dois anos, mas porque a obra em específico não pode esperar? Eu entendo situações emergenciais e não estou aqui julgando o mérito do sonho de construir ou reformar não ser emergencial ou necessário, estou apenas levantando uma questão recorrente na nossa realidade.
Nos últimos meses nosso escritório de projetos tem visto uma enorme demanda por obras e eu tenho prestado atenção nisso e enxerguei alguns fatores muito comuns nesse meio, os quais escrevo a respeito para alertar a família ou indivíduo que pensa em enfrentar uma obra nos tempos atuais.
Na minha ainda curta carreira como projetista já recebi muitas pessoas no escritório com um propósito: construir, seja uma casa, uma área de lazer, um puxadinho... e essas pessoas podem ser classificadas internamente com diferentes tipos de perfil:
· O ansioso
É obvio que quando queremos construir, queremos um processo rápido, onde os processos não sejam longos e burocráticos, todos queremos isso, mas esse perfil de cliente tem algo que o torna mais singular, que é o fato de já terem um construtor a disposição, e a frase que eu mais escuto é “Meu pedreiro fica disponível daqui alguns dias, precisamos definir esse projeto logo”.
Confesso que é o cliente que menos se encaixa no nosso modelo de negócio e que me deixa um pouco triste, pois pouco podemos fazer por ele, já perdi muitos clientes assim pois não conseguimos oferecer nosso melhor para ele. O processo de criação leva um tempo para ser realizado, temos briefing, apresentações, prazos de órgãos municipais entre outros, criar um projeto que atenda às necessidades do cliente não é o mesmo que achar um produto na prateleira de um supermercado, leva um tempo.
· O negociador
O tipo de cliente que enxerga o projeto como um custo e não como investimento. Parece clichê essa frase, mas não é. O projeto pode ser confundido como um custo por muitos pois de fato deve ser pago, afinal nossa empresa também precisa faturar, mas o cliente que acredita que o projeto não é investimento não enxerga os benefícios intangíveis que o projeto agrega. Esse tipo de cliente nós abordamos de maneira mais didática explicando os benefícios e necessidades de um investimento em projeto e como ele pode o livrar de uma dor de cabeça futura e até mesmo valorizar sua construção quando pronta, cuidando de custos e processos construtivos assertivos.
· O despreparado
As vezes recebemos os clientes que ainda não estão prontos para construir, mas já querem planejar tudo, esse seria o mundo ideal, mas também recebemos o cliente que quer construir, mas ainda não está preparado, mas ele não sabe. A chance desse cliente ficar frustrado é gigantesca e tentamos alinhar isso tudo ainda na primeira reunião, antes de fechar um contrato de projeto.
Construir custa dinheiro, obvio, mas às vezes parece que as pessoas se esquecem disso. Quando você vai comprar um carro você certamente já vai estudando quanto mais ou menos custa o modelo que te agrada, então não é nenhum susto quando você entra em contato com um vendedor e demonstra interesse no veículo e você sai de lá com o carro, ou não, dependendo da negociação, mas a questão é que o preço não te espanta.
Já quando falamos de construção o processo é bem diferente, você não foca cotando mensalmente quanto custa o cimento, os tijolos e esquadrias, você geralmente só é exposto aos custos de uma obra quando decide orçar a obra.
Voltando ao início o texto, quando eu entreguei o orçamento de obra para meus clientes, eles foram expostos de maneira direta ao custo final do sonho deles, considerando a obra pronta, entregue limpa, com garantias e sem as dores de cabeça que geralmente uma obra oferece.
Qualquer pessoa que recebe um orçamento do qual não se sabe quanto vai custar isso com certeza se assusta e busca alternativas para realizar aquele sonho de maneira mais em conta, dentro do orçamento, e aqui que está o pulo do gato.
Sabe-se que o valor final de uma obra geralmente é composto por 60% de materiais e 40% de mão de obra.
Existe uma cultura muito forte nas pequenas cidades onde o cliente com um projeto na mão (e muitas vezes sem projeto algum) procura um construtor para orçar o valor de mão de obra dos serviços e pede pra ele o orçamento da obra esse preço tende a ser muito menor do que um orçamento real entregue por qualquer profissional da área e aqui eu vou explorar alguns motivos disso acontecer.
· Falta de conhecimento técnico: Geralmente o construtor consultado carece de conhecimento técnico sobre as soluções apresentadas no projeto (quando existe um projeto), existem situações vividas por mim onde o construtor se quer olhou o projeto e cobra um valor por m², generalizando o tipo de serviço. A grande pegadinha é quando o construtor começa a realizar os serviços e ver que não era como ele esperava e ele percebe que não está valendo a pena realizar aqueles serviços por aquele valor, ou até mesmo o prazo que ele definiu é impossível de cumprir e aí começam os problemas entre o dono da obra que acreditara ter feito um bom negócio e o construtor que acreditou que seria um serviço igual aos outros mas o projeto é muito complicado e que ele deve ganhar mais por isso.
· Variabilidade do orçamento: Os construtores geralmente tem experiência nos serviços mais corriqueiros e sabem com uma certa precisão quantos tijolos ou sacos de cimento vão para determinado serviço, mas acreditar apenas nesse fator é um risco a ser considerado. Presencio muitos clientes que precisam ir toda hora buscar materiais de construção pois toda hora o pedreiro pede algo novo e se irritam: “porque não pede tudo de uma vez”, tem o outro lado da moeda também quando o dono da obra fecha uma compra grande de materiais e acaba perdendo por falta de gestão de estoque.
Considerando esses fatos vemos que é complicado fechar um orçamento de obra pois, o que parece barato agora pode ser bem mais caro depois, e não estamos nem considerando os desperdícios que podem chegar a 30%.
Por isso é muito comum vermos obras que começaram e se arrastam ao longo dos anos, muitas vezes fechadas, para não dizer abandonadas.
Minha missão aqui é alertar para a existência dessas situações, para que seu sonho não vire pesadelo, para que um momento tão importante vire o início de um descontrole financeiro e cheio de frustrações. A construção não é um processo simples, envolve gerenciamento de pessoas, fluxo financeiro, controle emocional e ainda riscos consideráveis de estabilidade e patologia em obras.
Conte sempre com um profissional para te assessorar nessas decisões, tenha consciência dos custos envolvidos e esteja preparado, construir é coisa séria.